15 Julho 2021 - 10:19

Defesa do acusado de matar Roberta Dias acredita em arquivamento do processo

Divulgação
Roberta Dias foi sequestrada e assassinada em abril de 2012

O advogado de Karlo Bruno Pereira Tavares, que foi gravado confessando como matou Roberta Dias, concedeu entrevista a um programa televisivo local nesta quarta, 14, data em que exames confirmaram que a ossada encontrada no Pontal do Peba, em Piaçabuçu, era mesmo da jovem que estava grávida quando foi assassinada em abril de 2012.

Ricardo Moraes declarou que a investigação da Polícia Civil foi dúbia e que acredita no arquivamento do processo na audiência que está prevista para acontecer no dia 27 de julho, em Penedo.

“Esse crime foi de grande repercussão e a gente é até visto nesse momento com aquela ideia de que o advogado quer descriminar alguém. Na verdade a gente quer provar que o nosso cliente não participou desse crime. A investigação policial foi muito dúbia, inclusive o processo tem dois relatórios que encaminham para duas situações diferentes e a que o Ministério Público se apegou foi a linha de acusação que conduz a denúncia do meu cliente, Karlo Bruno, e da mãe do Saulo, que é o jovem que namorava com a Roberta. Acredito que no dia 27, a instrução seja encerrada”, declarou Moraes.

Vale lembrar que as investigações sobre o caso tiveram um novo rumo em maio de 2018 quando um laudo elaborado pela Polícia Federal, após perícia em uma gravação, vazou nas redes sociais mostrando um diálogo entre duas pessoas, em que uma delas confessa ter matado a jovem Roberta Costa Dias em abril de 2012.

O documento, elaborado com base em um diálogo de quase 16 minutos, reproduz literalmente o que foi dito pelas partes no áudio que foi enviado ao setor técnico científico da Polícia Federal em Alagoas, ainda no ano de 2016, pelo delegado Cícero Lima, que época presidia o inquérito policial que investigava o caso.

Na gravação, Karlo Bruno conta detalhes de como cometeu o crime em companhia de Saulo Araújo, que o pai do filho que Roberta Dias estava esperando quando foi assassinada covardemente no dia 11 de abril de 2012, no terceiro mês de gestação.

Gravidez indesejada

Logo no início do diálogo, Karlo Bruno conta que cometeu o crime porque queria ajudar o amigo que, segundo ele, estava temendo a reação do pai ao saber que seria avô. E que a ideia inicial surgiu uns dois dias antes do cometimento do homicídio.

“Ele disse assim rapai tá grávida e tudo. Não sei o que, não sei o que. Eu tô arrombado se meu pai descobrir. Teve um dia, nesse meio, né, chegou a mãe dela [Roberta] na casa dele. Tinha uma galera da porra de menina na casa dele. Roberta tava no meio. Quando ela chegou, digo lasco. Aí ela perguntou: cadê sua mãe. Aí ele gaguejou. Eu acho que ela não tá não. Mas deixe eu ver aqui, aí a mãe dele já vinha saindo. Disse opa? Que foi? Já tá sabendo que a senhora vai ser vovó? Foi logo matando” (sic), disse o jovem na gravação, segundo o laudo da PF.

Posteriormente, Karlo Bruno explica o momento exato em que a trama começou a ser planejada. “Quando foi nouto dia, ele me procurou e disse: Bruninho, fu***. Eu disse oxe bicho que dé pra você dá pra mim. Ele disse, tem coragem, assim, assim, assado? Rapais, a gente faz. Coragem num falta não, pra fazer nada, não falta não. Agora é saber faze. Ai ele disse: Pronto, qualquer coisa eu falo com você. Ai eu tava no ponto oia, pra ir pro cursinho em Arapiraca aí ele chegou e disse: bora hoje? Aí eu já ligado digo, bora! E fomos pra casa dele” (sic), complementou.

Mais adiante, Karlo Bruno explica que após planejarem o crime, eles providenciaram a retirada do som da mala do carro que foi usado no sequestro da jovem e, logo em seguida, partiram para um terreno onde estava sendo construída uma casa da família do pai do filho que a vítima carregava em seu ventre. Nesse local, a gravação mostra que a dupla pegou uma pá, uma enxada e o fio de uma extensão, que mais tarde seria usado como a arma do homicídio.

Posteriormente, ainda segundo o que foi dito por Karlo Bruno na gravação, o mesmo entrou na mala do carro, um veículo Gol de cor preta, e ambos saíram ao encontro da vítima que, naquele fatídico dia, tinha ido fazer uma consulta pré-natal em um posto de saúde situado no bairro de Santa Luzia. Quando questionado, no diálogo, como o ‘namorado’ da jovem tinha feito para atrair a vítima, o indivíduo diz não saber o que foi dito para ela aceitar encontrar com o pai do filho que carregava.

“Eu disse pra ele, quando você parar deixa comigo. Ele disse: Bruninho paro onde mais ou menos? Bicho, tem que ser num canto longe. Eu disse: eu vou por aquele canto ali que quero entrar na Santa Amélia. Foi buscar ela e eu na mala. E ela entrou, não sei o quê, conversando com ele de safadeza. Ai quando eu senti o carro parar, dei aqui a volta logo assim na mão. Estiquei assim o fio, mai ou meno que eu sabia que dava pra garanti no pescoço dela e, nesse assento assim, no apoio de encostar a cabeça né. Vou logo botar, digo não, ói, vou devagazinho aqui ó. Quando tirei um poquinho, eu digo, tá, eu vou é ligero ai fui. Ela ainda olhou pra mim. Essa cena é a que fico mesmo aqui” (sic), declarou o jovem sem mostrar arrependimento.

Com o fio da extensão enlaçado em seu pescoço, Roberta Dias ainda teria implorado para viver e, garantido que se ficasse viva praticaria um aborto, mas não teve jeito. “E eu queria mais saber de nada. Larguei-lhe a volta aqui no pescoço, dei outro. E ele nervoso. Vamos soltar essa peste aí, eu digo, cê é doido, é? Você é doido, car***o não sei o que. Ai ele, não, não, vamos simbora, deixe esse cra*** ai. Eu digo: Homi, tenha calma. Só se ligue se vem alguém aí, que vira e mexe, ali tem uns vigias. E eu apertando no guarguelo. Ai demorou né, um pouquinho, uns cinco minutos, eu acho. E ela com os braços assim, se batendo” (sic), explicou.

O laudo da gravação mostrou também que, segundo o que foi dito pelo próprio Karlo Bruno, enquanto ele enforcava Roberta Dias, Saulo Araújo segurava em seus braços. No entanto, quando a vítima já estava sem forças, Bruno pediu que o comparsa fosse para o banco de trás e continuasse enforcando a jovem com o fio, enquanto ele assumia o controle do veículo.

“Acho que ali já era a morta. Não voltava mais não. Mas, eu pá garantir, eu queria um negócio garantido. Eu olhava assim pra ela e olhava pro Saulo. Ficou preto os olhos dela. Aquela frase que ela disse: Bruno, tenha calma, eu tiro. E aquela cena dos olhos pretos marcou” (sic), acrescentou, complementando que pouco tempo depois, eles decidiram deitar Roberta, já sem vida, no banco traseiro e começaram a pensar em um local para enterrar a jovem.

Plano macabro: arrancar dentes e cabelos da vítima

Por decisão de Karlo Bruno, a dupla seguiu em direção ao Pontal do Peba com o corpo da vítima. Ao chegar no local, os jovens encontraram a maré cheia e, por conta disso, decidiram seguir para uma outra área, mais próxima já da praia do município de Feliz Deserto.

Nessa parte do laudo, o diálogo chega a ser assustador. Karlo Bruno conta com riqueza de detalhes que antes de enterrar a jovem em uma cova feita por ele e seu cúmplice pensou em arrancar sua arcada dentária e seus cabelos para dificultar a identificação do cadáver, caso o mesmo fosse encontrado. Quando questionado se tinha ficado com a consciência pesada, Karlo Bruno declarou que sim. “Fiquei. Não pelo o que eu fiz. Assim, não na atitude de matar alguém. Mas da atitude de dizer que matei por uma besteira”, revelou no áudio transcrito pela PF.

Celular de Roberta Dias

Ainda no diálogo revelador, Karlo Bruno assume que foi ele quem jogou o celular da vítima dentro de um terreno de uma residência situada nas proximidades da Rodovia Engenheiro Joaquim Gonçalves, nas imediações do bairro de Santa Luzia, parte alta do município de Penedo.

Recompensa

Karlo Bruno é questionado também se chegou a receber algum valor para cometer o crime. Ele nega. Segundo o próprio, o homicídio foi cometido por amizade, apenas para ajudar Saulo Araújo. Ele disse ainda, antes de encerrar sua confissão, que não tinha interesse em se entregar e que, mesmo a polícia descobrindo a autoria do assassinato, assumiria tudo sozinho.

No entanto, a gravação dessa conversa reveladora chegou às mãos da polícia e o caso que, sem dúvida, foi de grande repercussão em todo o estado, finalmente foi esclarecido, mesmo ainda sem novas prisões terem sido efetuadas.

Assim como muita gente em Penedo teve acesso ao áudio da gravação com a confissão do acusado, nossa redação também. No entanto, como no diálogo cita o nome de pessoas que não tem envolvimento com o caso optamos por não publicá-lo.

por Redação

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