CORDEIRO É 14. CORDEIRO TRABALHA!
Uma vez, há mais de vinte anos, quando a usina hidrelétrica de Xingó estava sendo construída e eu trabalhava como assessora do deputado federal Albérico Cordeiro, participávamos dos preparativos para a visita do então Presidente da República, José Sarney, à usina.
Eu, o jornalista Stéfani Lins do jornal O Estado de São Paulo e Albérico Cordeiro, embarcamos em um avião monomotor no Aeroclube de Maceió com destino a Xingó.
Quando já sobrevoávamos o município de Delmiro Gouveia, o tempo piorou e enfrentamos, literalmente, uma tempestade. O pequeno avião era sacudido para lá e para cá e a turbulência dificultava as manobras do piloto.
Stéfani, muito branco, estava verde. Eu, apavorada e muda, me valia de uma caixa de bombons como se a perspectiva de morrer com a barriga cheia de chocolate me fizesse, quem sabe, encontrar o paraíso. E Cordeiro? Cordeiro berrava.
-“Poooorrrrrrrraaaaaaa! Eu não quero morrer agora não, eu ainda tenho muitos sonhos e projetos a realizarrrrrrrrr!”
E Deus ouviu o seu berro e certamente deve ter pensado: ”- Esse meu cordeiro ainda precisa fazer muita coisa pelo povo de Alagoas”.
E ordenado: “ – Pare a chuva e os ventos e permitam uma boa aterrisagem!”
Sábado, ao lado do seu caixão, lembrei desse e de outros episódios que vivemos juntos nesses quase trinta anos de trabalho e amizade. Lembrei quando em 1988 tentamos acordar Penedo com a campanha de Arivaldo Lopes. Ouvi o som de seu mini trio elétrico pelas ruas da cidade numa campanha que tinha como símbolo os sinos das igrejas do Penedo e como objetivo acordar o nosso povo de um sono e de uma letargia cujas conseqüências se traduzem na tristeza que, como as águas da chuva desta manhã de domingo, em lágrimas, escorrem pelas pedras da cidade.
Lembrei da campanha de Fernando Collor à Presidência, quando percorremos palmo a palmo do sertão de Alagoas e nos emocionávamos com a esperança do sertanejo, homens de punhos erguidos e mulheres prenhens de fato e de fé. Cordeiro tinha um amor especial pelo sertão.
-" Eu ainda tenho muitos sonhos e projetos a realizarrrrrrrrr!"
Quando Martin Luther King, em 1963, fez aquele famoso discurso cuja frase “Eu tenho um sonho”, ficou mundialmente conhecida, tornou universal o direito de todos os seres humanos a sonhar. E Cordeiro também sonhou.
Sonhou que um dia o entardecer rubro do sertão teria como moldura a fartura e a justiça.
Sonhou que um dia todos aqueles vales seriam verdes, irrigados com a água do Canal do Sertão e produtivos pela força dos homens e mulheres sertanejos.
Sonhou que os jovens com idade entre 15 e 24 anos não mais seriam números aterrorizantes nas estatísticas dos assassinatos e não seriam julgados pela cor de sua pele, mas estariam capacitados para transformar Alagoas e teriam oportunidades de forma igualitária.
Cordeiro sonhou que os políticos sentariam à mesa apenas para discutir projetos de interesse da sociedade e que as crianças e as famílias não mais seriam consumidas pelas drogas porque as políticas públicas seriam eficientes e eficazes.
Sonhou que a política não mais seria praticada com indignidades e opressão, mas que os políticos seriam respeitados pela força de seus caracteres.
Cordeiro sonhou com uma ponte sobre o rio São Francisco e com o progresso trafegando de uma margem à outra, entre Alagoas e Sergipe, sem pagar pedágio.
Cordeiro sonhou com grandes feitos e grandes obras para o nosso estado, como a instalação do Estaleiro Eisa, em Coruripe, mas Cordeiro não apenas sonhou.
Cordeiro saiu das redações, dos gabinetes de deputado e de prefeito e foi para as estradas. Percorreu Alagoas de ponta a ponta, de Moxotó a Maragogi, de Piaçabuçu a Estrela de Alagoas e fortaleceu o alicerce de seus sonhos com a terra de cada rincão desse estado.
Sexta-feira, dia 23 de abril, um assessor celestial bateu à porta do gabinete e disse a Deus:
- "Senhor, precisamos com urgência de um construtor de projetos e sonhos."
Então Ele pensou, olhou a pasta específica lá no computador do Céu, examinou cautelosamente, analisou, deletou alguns arquivos inúteis e finalmente lembrou de um berro ouvido de um cordeiro há mais de vinte anos. Aí fez as contas dos projetos e dos sonhos, contabilizou os resultados e depois de constatar que o saldo positivo permitia uma promoção, disse ao assessor:
- "Traga aqui o Albérico Cordeiro e sua equipe. Nós precisamos marcar, definitivamente, uma grande obra em Alagoas, aliás, uma obra que, pela sua importância, não pode ser usada de forma eleitoreira e mesquinha. Uma obra que não pode servir aos interesses da mediocridade política que tem dificultado o crescimento e o desenvolvimento daquele estado e muito menos servir como matéria prima para as mentiras que certas pessoas, mentirosos contumazes, costumam espalhar em Alagoas."
E foi assim que Albérico Cordeiro e sua equipe foram levados para uma outra dimensão. Foram transferidos para um novo departamento de projetos e sonhos.
Cordeiro “morreu” em uma estrada de Alagoas, na terra que ele tanto amava, correndo, na velocidade de sua extraordinária capacidade de trabalho, em busca de um projeto e de um sonho para a nossa região e a grandeza desse estado.
Que esse episódio, para o qual buscamos explicações apenas na crença de uma força superior que rege todas as coisas, sirva de referência para uma luta que precisa ser travada todos os dias em prol da dignidade política, da prosperidade, da liberdade e do trabalho pelo povo de Alagoas.
Lá no Céu, Cordeiro vai iniciar o trabalho com sua equipe, nesta segunda feira, no gabinete de numero 14. Sob protesto. Ele queria começar hoje mesmo, em pleno domingo.
CORDEIRO TRABALHA!
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