20 Maio 2019 - 08:33

Diretor diz que museus são importantes na identidade de um país

Divulgação
Exposição Ernesto Neto: Sopro, na Pinacoteca

Na semana em que se comemora o Dia dos Museus, o diretor-geral da Pinacoteca de São Paulo, Jochen Volz, destacou, em entrevista, a importância dessas instituições na construção da identidade do país.

“A gente entende que o principal é mostrar como não há uma ideia de identidade sem uma ideia de cultura ou de memória. Se queremos que exista um processo de identidade brasileira, paulistana ou paulista, precisamos entender que isso só existe enquanto a gente tem educação, cultura e arte”.

O designer gráfico Eduardo Lopes, 24 anos, concorda com Volz. Para ele, um museu é também, além do retrato e do reconhecimento de um povo, a ilustração da história do país e a projeção de seu futuro. “Com a arte, a gente aprende o que a gente foi, o que o país foi e consegue ver também o futuro. Aprende com as obras e vê o que aconteceu. Antigamente, eles registravam tudo pela pintura, pela arte, pela fotografia. Acho isso importante para a gente reconhecer quem é, quem é o povo e qual a nossa cultura. E, com isso, a gente cresce”, disse ele, ao visitar uma exposição na Pinacoteca durante a Semana Nacional de Museus.

Anualmente, a Pinacoteca recebe meio milhão de visitantes em seus dois prédios em São Paulo. Fundado em 1905, é o museu mais antigo da cidade. O acervo original da Pinacoteca, que dá ênfase à produção brasileira do século 19 até os dias de hoje, foi formado com a transferência de 20 obras do Museu Paulista da Universidade de São Paulo - incluindo nomes importantes como Almeida Júnior, Pedro Alexandrino, Antônio Parreiras e Oscar Pereira da Silva. Com o passar dos anos, a Pinacoteca formou um acervo significativo, que conta hoje com cerca de 10 mil obras.

Semana Nacional de Museus

Para comemorar a data, o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) criou a Semana Nacional de Museus, que este ano entra em sua 17ª edição. Só no estado de São Paulo, 211 instituições participam da ação, entre elas a Pinacoteca, que promoveu visitas guiadas à exposição interativa e temporária Ernesto Neto: Sopro.

“Para nós, a Semana Nacional é importante porque dá foco aos museus em geral e, talvez, pela articulação, atraia um público que normalmente não acompanha a programação da mesma forma. É uma plataforma para pensar sobre o papel dos museus, da memória, da arte e da cultura dentro da sociedade”, disse Volz. “Fazemos uma programação especial, mas, na verdade, ela [a semana] serve muito mais como um convite para acompanhar nossas programações especiais, que acontecem 52 semanas, atraindo grande público, todos os anos”, ressaltou.

Ernesto Neto

Com curadoria de Jochen Volz e Valéria Piccoli, a exposição Ernesto Neto: Sopro é uma retrospectiva que reúne 60 obras de um dos nomes mais proeminentes da escultura contemporânea. Desde o ínicio de sua carreira nos anos 1980, o artista vem produzindo obras que colocam em diálogo o espaço expositivo e as diversas dimensões do espectador.

“É uma exposição panorâmica da obra. Quase conta uma história de trinta anos do Ernesto. Entendo que ele é um dos maiores artistas vivos brasileiros e um dos maiores escultores vivos do mundo”, disse Volz. Segundo ele, a pesquisa de Neto, “se desenvolve a partir de experimentos com peso, contrapeso, balanço, material duro e mole, superfície opaca e transparente. E ele, nessa busca de equilíbrio, cada vez mais tem mudado de escala. No início eram objetos em equilíbrio, depois ele começou a convidar o público para participar e interagir com a escultura e entre si, buscando também um equilíbrio. Até chegar ao momento em que ele, se inspirando em outras esculturas originárias brasileiras, principalmente em um encontro na floresta do Acre, com o povo Huni Kuin, busca um equilíbrio espiritual e um equilíbrio sustentável entre a cultura humana e a natureza da qual fazemos parte”.

As obras de Ernesto Neto fascinam. Crianças se divertem, interagindo com as obras. Mas não são as únicas a aproveitarem a possibilidade de tocar em alguns objetos ou de sentir aromas de cravo ou urucum – e de refletir sobre suas esculturas. É o caso da pedagoga aposentada Edite Traiman, 65 anos. “Vou a todos os museus. Ouvi falar muito do Ernesto Neto. Toda a minha família é de artistas e eles vieram ver. E a minha filha, que é de Belo Horizonte, veio ver também. E estamos extasiadas”, afirmou.

“Museu é essencial. Sem isso não dá para sobreviver. Acho interessante que as crianças têm vindo com os professores. É a primeira vez que vi isso [no Brasil]. Achei interessante e super válido”, acrescentou Edite.

Ela contou que costuma ir sempre a museus. E que, nessas experiências, busca sempre mais informações sobre os artistas em exposição. “Acho interessante você ler primeiro sobre o artista, saber qual a proposta, o que ele sugere, o que ele pensa, quem ele é. E, a partir daí, você observa e admira muito mais a obra e acaba vendo detalhes que, se não tivesse se preparado, não teria visto”.

A também aposentada Shirley Hajczylewicz disse que é frequentadora assídua de museus e que costuma visitá-los com suas amigas. Na exposição de Ernesto Neto, elas interagiram com várias obras e fotografaram algumas. “Todas elas [as obras de Ernesto em exposição] foram uma surpresa. Em todas conseguimos interagir. Nunca tinha visto algo igual. Não conhecia a obra do Ernesto Neto e achei bem interessante”.

“Deveria ser uma prioridade manter os museus funcionando, sempre com novas mostras e sempre trazendo toda a população, [de forma] aberta, para poder compartilhar desse conhecimento”, observou Shirley.

A psicóloga Kátia Matos, 25 anos, aproveitou a exposição na Pinacoteca e trouxe seu filho e dois amigos, que se divertiram muito com as obras do artista. No octógono da Pinacoteca, eles tocaram tambor e balançaram as estruturas suspensas. “Vi [a exposição do Ernesto Neto] na internet e achei interessante a obra. Trouxe as crianças para conhecer”.

Segundo Kátia, as exposições interativas costumam atrair as crianças. “[É importante] ter o contato com a arte e, hoje, no mundo digital, elas [as crianças] ficam muito distantes disso. Então, a gente tem que interagir ao máximo, porque isso se perde no tempo”.

Para o diretor-geral da Pinacoteca de São Paulo, Jochen Volz, a exposição tem muito a oferecer para um público de todas as idades e de todos os costumes, sendo usuário mais ou menos frequente de museus. "Todo mundo vai encontrar algo para se inspirar e refletir sobre o papel da arte na sociedade e no nosso mundo”.

por Agência Brasil

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