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Do alto de Pão de Açúcar, o São Francisco se faz espelho

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Do alto de Pão de Açúcar, o São Francisco se faz espelho

Dom Pedro II, aos 34 anos, idade que tinha ao fazer a viagem pelo São Francisco, já apresentava um certo azedume. Talvez pelo cansaço. Em Pão de Açúcar, lançou: “O nome da vila não é bem cabido, pois que o morro é antes um mamilo pedregoso do que Pão de Açúcar”.

Queixou-se do calor. “Nunca suei como esta noite”, registrou no diário. Era 17 de outubro de 1859. Tinha acabado de chegar. Disse também que foi recebido por um “anjinho”, que entregou-lhe a chave da vila. Passados alguns dias, na volta do navio Pirajá, rendeu-se: “A vista do alto do Pão de Açúcar é bonita”.

Não é só bonita. Trata-se de um verdadeiro espetáculo, principalmente quando o sol se deita. Mais sabedoria tiveram os índios, que deram ao lugar o nome de Jaciobá — espelho da lua. Lá de cima, vê-se o sol e a lua bem refletidos nas águas do Nilo brasileiro.

Conhecido também como morro do Cavalete, o lugar recebeu em 1950 uma escultura do Cristo Redentor, do artista João Lisboa. O São Francisco, alcançado do mirante, emociona. Corre feito serpente por muitos quilômetros. Aprisiona, carrega os pensamentos. Deixa apenas paz, uma vontade de ficar lá, sem discutir com o tempo.

No dia seguinte, 18 de outubro, Pedro de Alcântara acordou cedo, antes de 5 horas. Foi dar uma volta. “A matriz é pequena, mas decente, só tem inteiramente pronta a capela-mor, o resto acha-se coberto”. É o templo do Sagrado Coração de Jesus, que fica, como de costume, na praça principal.

O monarca teceu elogios às vias de Pão de Açúcar. “Há uma bela rua direita longa e muito larga e outra perpendicular também direita, porém menos longa e larga”, escreveu. Existem até hoje. A maior, antes Rua do Meio, é hoje Avenida Bráulio Cavalcante e passou a ser dividida por uma praça.

Esses caminhos e a casa onde ficou hospedado o imperador foram mostrados pelo radialista Hélio Fialho, que também tem livros sobre a região. O sobrado, a antiga Câmara da vila, está em péssimas condições. “Temos o projeto de recuperá-lo. Para isso, precisamos reunir prefeitura, Estado e governo federal”, avalia o comunicador. O casarão fica de frente para o rio.

Quando homens e mulheres já nascem artistas

A cidade de Pão de Açúcar guarda um pouco de misticismo. Na Ilha do Ferro, localidade do município, os homens e mulheres nascem com o dom para as artes. Parece genético. São muitos os escultores e as bordadeiras. No Centro também, os músicos têm talento fora do comum.

Conversando com Hélio Fialho, descobrimos que dois dos principais instrumentistas de Alagoas, na atualidade, são filhos de Pão de Açúcar e irmãos: Wilbert Fialho, senhor das cordas, e Billy Magno, que hoje vive em São Paulo e toca sax, piano e teclado, divinamente. Sabemos também de Jurandir Bozo, moço criativo e cheio de versos, que já foi da banda Poeira Nordestina. Pronto, paremos por aqui. Falta espaço para todos os músicos e compositores “doces”.Neno Canuto

Sigamos então com os “domadores” de madeira. Fernando Rodrigues, nascido na Ilha do Ferro, foi um artista consagrado. Reconhecido como Patrimônio Vivo do Estado, teve suas peças expostas em bienais, revistas de design, disputadas por colecionadores e arquitetos. Ele via gente e bicho num pedaço de tronco, numa pedra “esquecida” na estrada. Morreu em janeiro deste ano. Mas antes, conseguiu entregar uma de suas cadeiras ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro aconteceu em Delmiro Gouveia.

Como mestre generoso, Fernando Rodrigues deixou discípulos. Na visita a Pão de Açúcar, conhecemos Petrônio Farias, sujeito simples. Numa garagem apertada, ele guarda o carro e dezenas de peças. São muitos bancos, cobras, gambás e formigas. Tudo tão cheio de vida e caprichado nos detalhes.

“Faço as esculturas desde 2004. Começou com um desafio de Seu Fernando. Eu vendia a madeira pra ele e num dia, ele perguntou se eu seria capaz de fazer também. Fiz e ele gostou. Não parei mais”, conta. Além de artesão, Petrônio é pescador. Tira das águas a inspiração. Vá conhecer assim que puder. Ele mora no Centro da cidade.

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