Martha Martyres

Martha Martyres

Radialista, diretora da rádio Penedo FM, âncora do jornalismo no Programa Lance Livre

Postado em 14/08/2009 11:45

Por amor não se mata

Apesar dos avanços sociais alcançados pelas mulheres em todo o mundo, o jugo masculino e a violência contra a mulher ainda são realidades marcantes que trazem o assunto para o pico dos índices da criminalidade.
Na manhã desta sexta feira, em Penedo, o jovem D. L. S., que completará dezoito anos na próxima semana, matou sua companheira Claudenice Teles, de dezoito anos e saiu às ruas gritando que “matou por amor a mulher de sua vida”. Segundo a polícia, o crime foi motivado por ciúmes.
Angela Diniz, Eliane de Gramont, Adalgisa Gomes, Eloisa Balesteros, Angélica Maria, Margareth Martins, Maristela Just, Silvânia Barbosa, Kátia Camarotti, Estella Calumby, Rosiane Silva, Claudenice Teles. Crimes hediondos que têm comovido a opinião pública, mas, ao que parece, não conseguiram e não conseguem desmanchar a idéia de uma inferioridade feminina que ainda persiste em determinar relações em que uma pessoa é vista como senhor da outra pessoa. Uma lógica amorosa onde a mulher torna-se objeto do desejo de um número considerável de psicopatas que não hesita em usar a força e a violência.
Desmanchar tudo isso não é fácil porque destruir essa cultura é desnaturalizar a violência entre os sexos, enraizada, inclusive, no nosso subconsciente.
A violência contra a mulher há muito tempo deixou de ser um fenômeno privado. Hoje, ela é tratada como uma questão relacionada aos direitos humanos tanto pela sociedade quanto pelos poderes constituídos. Exemplo disso é a Lei Maria da Penha. No entanto, às vezes temos a impressão de que a lei é feita apenas por homens, a justiça formada apenas por homens e até a justiça divina, de homens. Afinal, Deus é homem, Jesus cristo é homem, Padre é homem.
Alguns assassinos de mulheres foram e serão condenados, outros são suicidas, mas muitos estão gozando de plena liberdade e não apagam a chama da violência. Alguns chegam até a ocupar cargos importantes dentro da estrutura governamental e social e agem como se fosse cidadãos de bem. Homens que se sustentam no rançoso mito de que tem poder e que a passionalidade e a “legítima defesa da honra” lhe dão respaldo para ditar normas, ameaçar, espancar, serviciar e matar.
Como no caso de hoje em Penedo, as vítimas continuam servindo de espelho para que os criminosos continuem traduzindo seus valores legitimados pelos conceitos Bíblicos da obediência que a fêmea deve ao macho. A grande maioria dos criminosos atinge a cabeça da sua vítima. O lugar que eles não conseguem atingir. A cabeça da mulher é o lugar que os assassinos de mulher não conseguem alcançar.
Apesar das leis coercitivas existentes no país, a manifestação de força masculina permanece no dia a dia das mulheres. E essa violência precisa ser barrada a qualquer custo.
Nos tribunais, pasmem!, ainda são usados os recursos da “legítima defesa da honra” e esse monstro pré-histórico apelidado de ciúme. Não é mais possível aceitar.
A violência contra a mulher precisa ser gritada, denunciada e nunca, nunca mesmo, perdoada, entendida ou desculpada pela sociedade. É preciso e urgente banir essa violência e destruir essa idéia de que se mata por amor. Milhares de mulheres são vítimas dessa aberração.
Por amor não se mata. Por amor se faz é carinho!
 

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  • Edmundo "Por amor não se mata. Por amor se faz é carinho!" finalizou perfeitamente esse excelente texto.