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Caminho inverso no futebol feminino marca trajetória do Kindermann

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Caminho inverso no futebol feminino marca trajetória do Kindermann

Município com pouco mais de 78 mil habitantes, Caçador fica na região do Contestado, meio oeste de Santa Catarina, a 400 quilômetros da capital Florianópolis. Mesmo distante dos principais centros econômicos do Brasil e até do próprio estado, a cidade abriga uma das camisas mais tradicionais do país no futebol feminino. Adversária do Internacional nas quartas de final da Série A1 (primeira divisão) do Campeonato Brasileiro – em confronto que começa nesta quarta-feira (28), às 17h (horário de Brasília) – a Associação Esportiva Kindermann seguiu um caminho diferente da maior parte dos times envolvidos na modalidade.

Fundado em 1975, o clube deixou o futebol masculino no início dos anos 2000 para se dedicar ao futsal, primeiro entre os homens, depois abrindo as portas às mulheres. O sucesso nas quadras do time feminino, iniciado em 2004, foi decisivo para mudar a trajetória da agremiação fundada pelo empresário – e ainda hoje presidente – Salézio Kindermann.

“Fomos campeões da Taça Brasil de Futsal sub-20 no primeiro ano. Em 2005, ganhamos no adulto pela primeira vez. Tínhamos um super-time, com sete jogadoras da seleção brasileira. Depois, o futsal decaiu um pouco, as competições não estavam mais acontecendo. Fomos para o futebol de campo [feminino] em 2008. No ano seguinte, disputamos a primeira Copa do Brasil e já ficamos em terceiro. Para um time que veio do futsal, fomos muito bem. Só que chegou uma hora que não dava para fazer as duas coisas. Paramos com o futsal e ficamos só no campo, onde estamos até hoje”, relata Salézio.

Nos últimos 12 anos, foram 11 títulos estaduais, um vice-campeonato brasileiro (2014), uma semifinal de Série A1 (2019) e o maior feito: a conquista da Copa do Brasil (2015). “É comum a gente frequentar o mercado, as lojas da cidade e as pessoas nos perguntarem sobre os jogos e nos parabenizar”, conta a meia Júlia Bianchi, revelada pelo Kindermann e atual camisa 10 do elenco. “A população de Caçador abraça o time”, completa.

De fato, os 18 apoiadores que o clube divulga no site oficial são de Caçador e região, sendo um deles uma universidade que fornece bolsas de estudo às atletas. Há, ainda, a parceria com o Avaí, firmada no ano passado, pela obrigatoriedade de os times envolvidos em competições da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) terem representantes no feminino. Por isso, a equipe atua como Avaí/Kindermann. Segundo Salézio, a agremiação de Florianópolis fornece uniforme e apoio financeiro.

O projeto do Kindermann teve uma pausa forçada durante 2016, devido a uma tragédia. Em dezembro de 2015, Josué Henrique Kaercher, então técnico da equipe, foi assassinado por Carlos José Correa, ex-treinador do Pantera Negra, um time de futsal mantido pelos mesmos donos do clube catarinense. Estarrecidos, os responsáveis pela agremiação anunciaram o encerramento das atividades “por tempo indeterminado” dias após o crime.

“Você fica emocionalmente abalado. Eu podia ter perdido toda a minha família ali. Para mim, tinha acabado, não tinha mais futebol. A gente tinha acabado de ganhar a Copa do Brasil e o Kindermann participaria pela primeira vez da Libertadores Feminina. Acabamos abrindo mão, não tínhamos condição. Fiz trabalho psicológico por seis meses. Minha família não queria mais que eu voltasse ao futebol”, recorda Salézio.

A pausa durou cerca de um ano. Em 2017, a CBF mudou a forma de disputa do Campeonato Brasileiro, com a criação da Série A2 (segunda divisão) e a garantia de um lugar na divisão de elite às oito melhores equipes do ranking feminino da entidade. O Kindermann iniciou aquele ano justamente em oitavo lugar, mesmo após uma temporada parado.

“Naquele momento, tínhamos quase R$ 1 milhão captados em projetos para o futebol. Eu tinha esse compromisso com a cidade, que nos ajudou. Foi um trabalho longo com a família. O futebol é minha vida, não tinha como viver sem. Levei um ano para convencê-los. Graças a Deus, consegui o aval e voltamos em 2017. Começamos do zero, mas fomos bem”, destaca o dirigente, em referência à equipe ter alcançado as quartas de final do Brasileirão, parando no Rio Preto, então atual campeão.

Goleira da seleção brasileira, Bárbara chegou ao Kindermann em 2017, na volta do time ao campeonato nacional – Andrielli Zambonin/Avaí Kindermann/Direitos reservados
Para a remontagem da equipe, o Kindermann apostou em um grupo jovem, preenchido com algumas atletas experientes. Entre elas, a goleira Bárbara, da seleção brasileira, que segue no grupo. O comando foi dado a Jorge Barcellos, ex-técnico da seleção e que também permanece no time de Caçador. “Tentamos trazer um pouco da nossa experiência, escolher as pessoas certas, não só na parte tática e técnica, mas também física, de fisioterapia. Trouxemos pessoas que contribuíram muito para o trabalho, que se envolveram e se entregaram. A coisa foi acontecendo”, recorda o treinador.

Se o Avaí optou pela parceria com o Kindermann, outros clubes tradicionais do futebol masculino, como Palmeiras, São Paulo e Cruzeiro, montaram os próprios elencos femininos – no caso da Raposa, pela primeira vez na história. Santos, Corinthians, Flamengo, Grêmio e Internacional, por sua vez, já desenvolviam a modalidade antes da obrigatoriedade, ainda que tendo pausas nas respectivas trajetórias, por diferentes razões.

A entrada dos chamados “times de camisa” no Brasileiro Feminino, porém, não tirou o agora Avaí/Kindermann da parte de cima. No ano passado, as catarinenses terminaram a primeira fase na terceira posição e caíram apenas na semifinal para a campeã Ferroviária. Desta vez, a equipe avançou às quartas de final com a sexta melhor campanha e estabeleceu a maior goleada (9 a 0 sobre o Audax) da competição, além de ter o segundo ataque mais positivo, com 39 gols, empatado com o Inter – o Corinthians, com 48 gols, lidera a estatística.

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