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Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 16/02/2023 09:01

A indústria e o novo governo: as intenções serão cumpridas?

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A indústria e o novo governo: as intenções serão cumpridas?
Novos investimentos dependem do ânimo dos agentes econômicos

Periodicamente, quando da eleição de um novo presidente, a Confederação Nacional das Indústrias apresenta uma série de reivindicações intitulando-as como plano de retomada da indústria, com as sugestões do setor para o desenvolvimento nacional do segmento produtivo e consequente melhoria para a população brasileira.

Os dirigentes da CNI cumprem as suas obrigações estatutárias, pois para isso foram eleitos e seus argumentos são bem fundamentados e caso sejam efetivados transcenderão o ambiente industrial, atingindo os outros segmentos produtivos em um efeito cascata. No documento apresentado em dezembro do ano passado, após o resultado do 2º turno, muitos dos itens já constaram de documentos similares anteriores, como ampliar os prazos para pagamentos de tributos, aperfeiçoar e fortalecer o sistema de financiamento à inovação, entre outros e que vão ao encontro das promessas feitas pelo governo eleito na campanha. Aqui emerge a questão principal: por que continuam recorrentes?

A principal preocupação da confederação são os resultados das pesquisas que realiza regularmente, para conhecer a participação do segmento industrial no PIB nacional. Esta participação, de acordo com a última pesquisa, vem em uma curva decrescente, pois em 1980 foi de 48%, em 1985 36% e em 2021 11%, o que por si só indica que estamos em um processo acelerado de desindustrialização refletindo negativamente na economia brasileira como um todo.

Neste plano de retomada da produção industrial, denominado de Reindustrialização da Economia Brasileira, enfatiza a necessidade de investimentos para aumento da sua produção e respectiva produtividade, através de equipamentos modernos e mão de obra melhor qualificada, para equiparar a produtividade brasileira ao nível da internacional e assim ter competitividade nos mercados internos e externos.

Novos investimentos dependem do ânimo dos agentes econômicos, mas os indutores têm que sinalizarem, a longo prazo, um ambiente econômico/político estável que depende diretamente da política econômica/fiscal do governo, pois desta política é que resultará no controle efetivo da estabilidade entre a arrecadação e os gastos públicos, que é a causa principal da estabilidade da inflação com consequências diretas no nível das taxas de juros básicos (SELIC), igualando-as ao padrão internacional. Como todo investimento é risco, qual o empresário que vai investir seu capital quando há indefinições na política macroeconômica no país? São estas dúvidas que a CNI trata no seu documento reivindicatório.

Os agentes econômicos utilizam como principal variável na realização de seus investimentos a Taxa de Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE), que em termos simples significa qual será o lucro de cada R$ l,00 investido. É praticamente improvável que o investidor obtenha resultado compensador com as atuais taxas de juros pois enquanto a Selic se manter em 13,75% aa os bancos cobrarão os juros bem acima desta taxa para financiar não só novos investimentos, como também para o custeio de matérias primas para a produção.

A solução para desmontar estas barreiras impeditivas da reindustrialização está com o governo, que é o principal ator desenvolvimentista do país. As soluções sugeridas por associações industriais, economistas renomados e outros autores, que a tempo deixaram o ineditismo, deveriam ser tratadas como procedimentos básicos, cabendo ao governo a escolha da mais adaptável ao seu projeto político e implementá-las.

É quase unanimidade entre os operadores econômicos que o fundamento de uma política governamental sólida é a que produza, inicialmente, um ajustamento nos gastos públicos adequando-o às suas receitas, procedimento óbvio e relaxado, mas como estes gastos são ao mesmo tempo causa e efeito, de nada adiantará, por exemplo, baixar artificialmente as taxas de juros se esta é influenciada pelo déficit orçamentário, mas que pode ser enfrentado pelas reformas tentadas no governo Temer, mas que pela exiguidade de tempo do governo, ficaram, como sempre vem acontecendo, para o governo subsequente e assim adiada sistematicamente por ser contrária a interesses classistas.

A reindustrialização nacional é viável, caso o governo inicialmente promova uma reforma administrativa consistente para reduzir, em bilhões, suas despesas anuais com pessoal, que com raras exceções são remunerados bem acima da média do setor privado e apresentam uma produtividade cômica. A economia resultante desta reforma tende a produzir uma queda sistemática dos juros básicos, proporcionando menos custos financeiros da dívida do governo e consequentemente mais recursos para investimentos em infraestrutura beneficiando todas as atividades produtivas.

Concomitantemente deve realizar uma reforma tributária tão necessária para que produza efeitos em simplificação do cálculo, pagamento e distribuição de impostos, produzindo efeitos benéficos nas empresas não somente industriais, que atualmente tem um gasto elevado de despesas administrativas, tempo e pessoas, em efetuar cálculos decorrente de legislação complicada e diversa.

Continuando com o óbvio, a tão comentada reforma fiscal que se resume a apenas um ponto principal: um marco definidor das despesas e endividamento do governo e uma legislação segura para quem investe na produção se faz prontamente necessária.

Essas ações que já são do domínio público, tendem a produzir os efeitos que a CNI requer como tão bem registrou no documento apresentado ao governo. Outras se fazem necessárias, mas são complementares. Como o atual governo é contrário a privatizações e concessões esperamos que mantenha as atuais como estão, mas chega de criar novas, pois são improdutivas e hoje toda atividade econômica interessa a iniciativa privada, diferente do século XIX.

As questões provocadas pela CNI terão respostas efetivas ou esperamos mais quatro anos para serem reenviadas ao próximo governo?
 

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Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 18/01/2023 09:16

A vocação econômica municipal

Desenvolvimento e geração de renda dependem da visão vocacional dos dirigentes dos municípios.

Em vários municípios esta vocação surgiu independentemente da interferência programática do poder público, pois as riquezas inatas de seus solos e subsolos, topografias, rios, oceano, clima e outros fatores naturais levaram naturalmente as pessoas à exploração destas riquezas, determinando a sua vocação econômica por proporcionar desenvolvimento, riqueza e renda, e então chamar a atenção das autoridades públicas para melhoria da infraestrutura, incentivos e acessos para escoamento da produção.

Em outros municípios, em pequeno número, a ocorrência de um evento ocasional é que direcionou a escolha da atividade econômica principal do município, como a descoberta de minério valioso, instalação isolada de um grande hotel, de um mega estaleiro ou porto, de uma mega indústria, como também a beatificação ou canonização de religioso ou religiosa residente na cidade.

Porém na maioria dos municípios a atividade econômica é ampla e desconexa entre si, não tendo uma que seja a âncora e que proporcione aos outros segmentos produtivos protagonismo complementar e necessário a um desenvolvimento contínuo e consistente para enfrentar crises econômicas pontuais. Neste caso o poder público municipal é o ator principal para que a comunidade decida, consensualmente, qual atividade econômica será a mais significativo na geração de emprego e renda e como será a atenção às demais atividades para que também ganhem com a decisão.

Quando a principal vocação econômica do município ainda está indefinida, o ideal é o processo que envolva a comunidade na decisão de escolha é a realização de audiências públicas, mecanismo muito divulgado e utilizado atualmente. Quando este exercício é bem utilizado apresenta ótimos resultados, mas para isso aconteça, o ator principal - o poder público, tem que exercer a liderança que proporcionou a sua escolha popular no último pleito eleitoral e conduzir de forma produtiva estes encontros, planejando como se desenvolverão para que resultem no resultado esperado.

No nosso contexto, em decorrência da dinamicidade econômica municipal provocada pela ansiedade dos agentes econômicos em produzir incremento de receitas e da população na melhoria de sua renda e bem-estar, o segmento que está melhor atendendo estas necessidades vão, paulatinamente, se tornando o vetor da definição da principal fonte de produção da renda municipal. Esta é a dinâmica que estamos observando em Penedo.

Após um longo período de encolhimento econômico, originado pela instalação do porto marítimo de Maceió, que provocou o encerramento do polo comercial aqui instalado, diversas iniciativas foram tentadas para reverter a situação, porém em decorrência de novas variáveis incontroláveis a curva descendente não foi revertida. Mas foi deixado um legado inestimável: a festa de Bom Jesus dos Navegantes, o patrimônio artificial constituído pelas belas edificações da belle époque e o imperecível Rio São Francisco, carinhosamente tratado Velho Chico.

A festa de Bom Jesus dos Navegantes, evento religioso mais antigo e maior de Alagoas, sempre provocou um grande e crescente fluxo de pessoas a Penedo, esgotando a capacidade dos hotéis e restaurantes da cidade nos dias de sua realização. Esta continuidade despertou as pessoas a começarem a investir, ainda de modo incipiente, na instalação de novos equipamentos para atender a demanda reprimida.

Vagorosamente as diversas administrações passadas do poder público começaram a visualizar a importância que os eventos podem provocar no desenvolvimento do segmento do turismo e assim tornar-se a principal fonte de produção de renda e emprego para o município, considerando que as outras atividades econômicas não apresentavam um desempenho necessário para atender a criação de novos empregos, que sempre foi prometido nas campanhas eleitorais mas não cumprido, gerando uma retenção, cada vez maior, da mão de obra disponível e sem emprego, em um círculo vicioso no qual as expectativas eram frustrada e os problemas sociais crescendo.

Recentemente o secretário municipal de Turismo de Penedo, Jair Galvão Freire Neto, afirmou. em entrevista, as ações promovidas e que impulsionará para que o setor se consolide como vetor de desenvolvimento do município, tornando-se o segmento âncora que estimulará os empreendedores locais investirem nesta prestação de serviços, como também na indústria, comércio e agricultura, pois observamos que na maioria dos municípios que tem o turismo como locomotiva ele exerce tração para que os demais segmentos econômicos também avancem.

Esta entrevista, muito técnica, indica que a vocação econômica de Penedo será o Turismo, em suas diversas ramificações, embora não tenha sido tratado na entrevista de Freire Neto, fica a dúvida do horizonte temporal do seu planejamento, como também a participação das demais secretárias neste contexto. Temos conhecimento que primeiramente, sem uma educação de qualidade não melhoraremos o bom atendimento em todos os estabelecimentos comerciais da cidade, que atualmente é muito criticado nos segmentos de hotéis e restaurantes; em seguida as vagas de emprego criadas, principalmente as melhores remuneradas não aproveitarão a mão de obra local, importando pessoas de outras localidades com melhor preparação. Como a educação formal, por melhor que seja, não preenche as necessidades das empresas em relação as funções dos seus empregados, torna-me imperativo cursos específicos para esses operadores, pois são as pessoas que alavancam todos os empreendimentos. Igual importância têm as demais secretarias municipais neste planejamento integral.

Para que as intenções da escolha tenham sucesso, será necessário um plano central que ultrapasse o período dos mandatos eletivos e que envolvam todas as agências públicas no grande objetivo municipal sob a direção e liderança do gestor municipal eleito.
 

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Arthur Lira

Arthur Lira

Advogado do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Zumbi dos Palmares e Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

Postado em 28/12/2022 16:04

Educação em Direitos Humanos precisa ser prioridade em Alagoas

O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) foi publicado definitivamente em 2006, após longo processo de elaboração, fruto de uma grande articulação institucional entre diversos setores da sociedade e do poder público. A partir disso estabeleceu concepções, princípios, objetivos e diretrizes para política educacional voltada aos direitos humanos. Nesta linha, o material contempla cinco grandes eixos de atuação: Educação básica, Educação Superior, Educação Não-Formal, Educação para Profissionais dos Sistemas de Justiça e Segurança Pública e Educação e Mídia.

Neste sentido, o plano supracitado norteou todo o processo de construção do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos de Alagoas, que teve início em 2015, bem como apontou para a necessidade de elaboração e implementação de comitês estaduais de educação em direitos humanos para efetivação das políticas públicas direcionadas a esta temática. Sendo assim, em novembro de 2019, o governo do Estado de Alagoas circulou o Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos, todavia, o material ainda não foi lançado oficialmente.

Ocorre que, apenas em 07 de dezembro de 2021, o governo do Estado de Alagoas, através do Decreto nº 76.563 de 06 de dezembro de 2021, publicado no Dário Oficial, instituiu o Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos (CEEDH), de caráter consultivo, vinculado à Secretaria do Estado de Educação (SEDUC), com finalidade de formular e propor diretrizes para ações governamentais relacionadas à Política Estadual de Educação em Direitos Humanos, da mesma maneira que monitora e avalia esta política.

Entretanto, mesmo com todo esforço de algumas organizações do Poder Público Estadual e da Sociedade Civil que fazem parte da composição do CEEDH, até o presente momento, o Comitê ainda não saiu do papel. O único acontecimento foi a nomeação dos representantes (titulares e suplentes) para integrar o órgão consultivo.

Não custa lembrar que o Estado de Alagoas possui cerca de 1,7 milhões de alagoanos vivendo em situação de pobreza, o equivalente a mais da metade da população alagoana, conforme síntese dos indicadores sociais do IBGE (2022). Além disso, é o estado que apresenta as maiores diferenças de pessoas mortas entre negros e não negros, tendo como principais vítimas jovens da periferia, como aponta o Atlas da Violência 2021, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Desta forma, diante dos indicadores alarmantes apontados acima, é perceptível que a Educação em Direitos Humanos é uma das principais ferramentas para transformar esta realidade. Por esta razão, o que se espera da próxima gestão do Governador eleito, Paulo Dantas (2023-2026), é um olhar atento para esta realidade com a devida prioridade absoluta das ações governamentais capazes de efetivar a Política Estadual de Educação em Direitos Humanos.
 

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Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 22/12/2022 11:43

Ministério da Fazenda: habemus ministrum

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Ministério da Fazenda: habemus ministrum
Fernando Haddad foi o escolhido para o Ministério da Fazenda

No último dia nove, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou à nação quem será o ministro da fazenda no seu terceiro mandato, um segredo de polichinelo que o mercado, figura abstrata do mundo financeiro, esperava para dar partida às declarações de seus analistas sobre como este mercado reagirá e quais as possíveis consequências possíveis de acontecer. Fato habitual que sempre ocorre quando um novo governo está para tomar posse.

​O currículo do escolhido, Fernando Haddad, e suas declarações ficarão em evidência durante o interregno do dia da divulgação da sua escolha até o primeiro dia de janeiro em todas as mídias. Suas atividades escolares e acadêmica, seus posicionamentos enquanto prefeito da cidade de São Paulo e ministro da educação e nesse pretérito serão fundamentadas as opiniões, sejam favoráveis ou não.

​A situação da economia internacional não está em um momento de euforia e comemorações, pois desde os impactos negativos causado pelas restrições provocadas pelo Covid-19 vem apresentando um quadro pessimista com retração das atividades econômicas, inflação e juros altos. Embora tênue, as perspectivas para o próximo ano são sinalizam uma recuperação gradual dessas atividades e retorno da inflação e juros a patamares anteriores a 2020.

Nossa situação em nada difere dos acontecimentos nefastos mundial, exceto na atividade agropecuária e raríssimas exceções nos outros segmentos. Porém à nossa situação foram adicionados outros complicadores como desequilíbrio fiscal, protelação das reformas essenciais que reduzirão os gastos públicos, liderança sólida dos atores governamentais, choque entre os poderes constituídos e insegurança jurídica que estancam os investimentos privados. Esse é o nó que o futuro ministro da fazenda terá que desatar.

Os vetores que podem deter o ciclo ineficaz da nossa economia são abordados por economistas, administradores, políticos e escritores desde que o início do governo Sarney e as mais relevantes são: controle fiscal, reforma administrativa e tributária, concessões e privatizações das atividades que não são de responsabilidade do Estado. Essa é a linha programática da teoria liberal defendida por Adam Smith em sua obra Riqueza das Nações de 1776, com as atualizações impostas pela dinamicidade da economia moderna e contemporânea, política econômica esta prometida pelo governo que ora se encerra e que o ministro da economia atual, o Chicago Boy Paulo Guedes, não teve prestígio suficiente para implementar, prevalecendo o pensamento intervencionista do presidente.

​O futuro ministro tem a seu favor como conduziu as finanças da prefeitura municipal de São Paulo, contendo gastos desnecessário e produzindo superávits financeiros, gestão essa que foi elogiada pelo seu adversário João Dória quando o sucedeu no cargo.

​ Fernando Haddad em suas declarações recentes, talvez para diminuir o pressentimento dos atores do mercado financeiro, afirmou que as medidas mais imediatas que tomará após sua posse será submeter ao Congresso Nacional novas regras fiscais e tributárias, como também iniciará negociações comerciais internacionais objetivando melhorar o fluxo de capital para o país, através do incremento dos produtos agropecuários e que não aumentará os gastos públicos para aquecer a economia.

Como o futuro governo acredita, ainda, que o Estado sabe gerir suas empresas e autarquias, privatizações não estão, como no passado, nos seus planos. Talvez ocorram concessões e participações públicas privadas, que não transferem a propriedade dos bens do governo para iniciativa privada, embora os exemplos reais sinalizem claramente que quando ocorre privatizações a população é que mais é beneficiada, com melhores produtos, serviços e bons empregos.

Um ponto a favor do futuro ministro foi evitar que prosperasse a ideia, de integrantes do seu partido, de implementar a invencionice de uma teoria monetária moderna, que defende que o governo pode se endividar ilimitadamente pois sua dívida é líquida e certa. Outra loucura idêntica à contabilidade criativa, quando o brilhante Guido Mantega era o ministro da fazenda e seu resultado deu no que deu para a presidente Dilma.

A equipe econômica do futuro governo já está sendo formada, e os dois primeiros nomes Gabriel Galípolo, secretário executivo e Bernard Appy secretário especial para a reforma tributária, são técnicos com experiências na iniciativa privada e não causaram incômodo nos agentes do mercado e tampouco terremoto na bolsa de valores e na cotação do dólar.

Em um futuro próximo saberemos qual a dimensão do nível decisório do Haddad quando “cacique” Lula apoiará ou não a política do seu “índio”, pois a recente nomeação do Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES não foi combinada entre ambos e não era esse o subordinado que o futuro ministro da fazenda gostaria. Caso não venha a ocorrer uma sintonia entre o presidente e seu ministro da fazenda a partir de 1º de janeiro provavelmente teremos repetição “guedeana” o próximo governo e mais uma vez o passado será repetido no futuro com os mesmos resultados negativos que estamos cansados de assistir.

O presidente eleito sempre repete que aprendeu o que deve fazer, mas seria melhor que tenha aprendido o que não deve fazer, pois o ambiente econômico internacional não é o que ele encontrou no seu primeiro mandato. A propósito, seria interessante que o presidente e vice eleitos e suas futuras equipes leiam ou releiam “Por Que Falhamos”, de Cristovam Buarque, para não cometerem os mesmos erros do passado. Alea jacta est, expressão cesárea popularmente traduzida como Deus nos ajude. 

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Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 07/12/2022 09:25

Educação: sempre um desafio para os governos

O governo que assumirá os destinos do país no próximo dia 1º de janeiro, prometeu durante a campanha eleitoral que a educação será uma prioridade do governo, não será a número um porque a erradicação à fome será a preferencial, conforme o discurso feito pelo candidato eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, logo após o resultado do segundo turno.

O jornal Estado de São Paulo, resumiu no seu editorial de 27/11 de uma maneira simples e direta a situação atual da educação do país: um déficit histórico que todos os governos anteriores prometeram acabar, mas que deixaram uma deficiência ainda maior no sistema educacional do país.

Não se pode negar que ocorreram melhoras na educação durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, pois os seus ministros Paulo Renato Souza, já falecido e que tinha muita experiência na área, e Fernando Haddad, que teve uma longevidade no cargo maior do que seus antecessores e atuava na área.

Destacamos que essa melhoria, além de ser tênue, ficou restrita ao ensino superior que é responsabilidade federal, deixando por exclusiva conta dos Estados e Município o ensino infantil, o fundamental e o médio.

Uma crítica veemente de Cristovam Buarque, que foi o ministro da Educação no primeiro mandato do presidente ora eleito, onde permaneceu apenas um ano e foi demitido de forma deseducada por telefone, é que faltou aos governos progressistas, desde o governo de FHC, uma coordenação mais atuante na área da educação fundamental e média, apoiando, orientando, provendo e fiscalizando para atender um dogma da socialdemocracia, que é a socialização da educação como principal alternativa para a redução da desigualdade social.

A comissão de transição de governo na área da educação é composta por pessoas que atuam no segmento e a maioria com experiência na área pública federal, estadual e municipal. Essa comissão tem a responsabilidade de apresentar um diagnóstico mais preciso possível da educação no país, situação essa que norteará as ações que o novo governo deverá realizar para que daqui a quatro anos apresente melhorias substanciais, preferencialmente com índices que atestem a nova situação.

Pode até ser que na data de publicação desse artigo o presidente eleito já tenha escolhido quem será o ministro da educação, mas independentemente de quem seja terá que formar uma equipe de notáveis que formulará ações estruturantes, que só apresentará resultados a longo prazo e como se trata de período governamental, em um horizonte inicial de quatro anos e ações conjunturais que provoca resultados mais imediatistas. Destarte que o envolvimento e engajamento dos governos estaduais e municipais é o vetor indispensável para que essas ações cheguem a um bom termo, como se espera.

Vários autores, especialistas ou não em educação, sendo que alguns deles participam da comissão de transição, já publicaram diversos livros ou artigos sobre estratégias, ou meios, para que o nosso sistema educacional alcance nível similar aos dos países desenvolvidos, que em sua maioria enfrentou problemas similares aos nossos atuais, mas com seriedade conseguiram alcançar a situação atual que hoje é internacionalmente admirada e desejada.

Como as estratégias desses autores guardam certa similaridade, podemos citar apenas algumas da professora universitária Claudia Costin, atuante na área educacional e que integra também a comissão de transição. Ela defende para que a “educação pública venha a alcançar a mesma qualidade do ensino privado, necessita como passo inicial melhorar a atratividade da profissão da docência, provendo uma formação inicial e continuada dos professores, com mais diálogo entre teoria e prática, boa remuneração, plano de carreira; ressignificação da educação infantil com uma alfabetização que funcione para todas as crianças, um fundamental e ensino médio com um ensino mais engajador, preparando os adolescentes e jovens para a construção de seus projetos de vida e, claro, uma definição dos papeis entre os entes federados e com o financiamento necessário”.

É inimaginável que os dirigentes da educação, sejam federal, estaduais ou municipais, desconheçam os problemas estruturais e conjunturais que a Prof. Costin afirma, conjuntamente com os outros autores que já externaram em diversos artigos, quais as deficiências do nosso ensino público sugerindo medidas que podem, paulatinamente, reduzir a lacuna entre o ideal e realidade, mas que não foram priorizadas por esses gestores, substanciando a opinião do jornal O Estado de São Paulo.

Exemplos de como alguns municípios e estados realizam uma boa educação pública, que são exceções nesse vale de lágrimas, reaparece de tempo em tempo na mídia escrita, virtual e televisada, mas não desperta na maioria dos gestores públicos o senso de responsabilidade e esses gestores (serão gestores?) não se interessam como essas exceções estão colhendo ótimos resultados para realizar uma administração similar, adaptada às peculiaridades locais, esquecendo que as suas ações mudarão para melhor ou para pior as vidas dessas crianças/adolescentes no futuro. O município de Sobral (CE) vem sendo, há décadas, o exemplo mais marcante de ótimas e contínuas políticas educacionais no país.

Como existe uma interdependência entre as partes que constituem um todo, é impossível se pensar em uma boa educação pública, se não ocorrer uma conectividade entre essa e a diminuição do problema alimentar, da melhoria da saúde pública, transporte, segurança e dos outros serviços públicos.

Um recurso esquecido, pela maioria dos gestores públicos, é que a melhor fonte de boas ideias para o desenvolvimento do todo e suas partes estão na iniciativa privada, que sempre soube e continuará sempre sabendo como solucionar os seus problemas, prevendo, medindo, avaliando e melhorando sua eficácia. Resolver é difícil, mas não é impossível.

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