Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 03/07/2019 09:04

O empreendedorismo na prática

A primeira premissa para uma pessoa ser um empreendedor de sucesso, em qualquer segmento, é o autoconhecimento de suas habilidades, a atividade ou atividades que admira e as disciplinas curriculares que teve bom desempenho. Este seria o mundo ideal. Mas como de ideal a nossa realidade não é para todos, vamos sair desta quimera e procurar enxergar a realidade existente em municípios com menos de cem mil habitantes, que tenha uma economia incipiente e sem uma política de desenvolvimento que contemple pelo menos os próximos dez anos.

Observa-se que uma maioria expressiva de novos empreendimentos, nestes municípios, pertence a pessoas que iniciam seus negócios sem a necessária observação das normas legais, procurando a legalização apenas quando alcançam um mínimo de sucesso, mas ainda com o futuro incerto. Esta prática sugere que, no geral, esses empreendedores, se podemos qualificar com tais, ainda não desenvolveram alguma sensibilidade para os negócios, pois não identificaram as melhores oportunidades locais para atuarem e são, infelizmente, desprovidos de qualquer tino financeiro.

E isto normalmente acontece indiferentemente da existência de órgãos que tem a finalidade e obrigação estatutária de prestar todas as informações e qualificações para quem tenha interesse de montar seu negócio próprio, como também a orientação da obrigatoriedade de procederem de acordo com a legislação que regula os pequenos negócios. Infelizmente estes órgãos não são previamente procurados como deveriam e apenas lembrados quando os negócios aparentam êxito e com finalidade de regularização fiscal.

Observa-se que os perfis destas pessoas que resolvem iniciar seus negócios por conta própria, levando-se em conta os segmentos em que passam a atuar, a maioria enquadra-se na figura do empreendedor artesão, pois possuem alguma habilidade técnica adquirida na prática, conhecimento rudimentar de gestão de negócios e principalmente, uma formação educacional deficiente. Estes empreendedores geralmente são as pessoas que trabalharam em oficinas mecânicas, em salões de beleza, em organizações comerciais, em restaurantes e bares que abriram seus negócios próprios porque foram demitidos e não visualizam uma nova contratação.

Na prática estes empreendedores estariam localizados entre os níveis 0 e 2 na escala proposta por Norman Smith, se utilizarmos seus critérios de continuidade entre o empreendedor artesão e o empreendedor oportunista, sendo que este tem educação superior suplementado por conhecimento em assuntos mais amplos (administração, economia, legislação, contabilidade) e na escala aqui proposta estaria localizado no nível10.

Quando observamos as pesquisas sobre as causas mais comuns de falhas nos negócios, especialmente em micro e pequenos, a causa mais significante e recorrente é relacionada a fatores financeiros e que gira em torno de 70%. Estes fatores são classificados em incompetência do empreendedor, falta de experiência no campo negocial, falta de experiência gerencial e experiência desequilibrada (desatualização técnica).

É difícil um empreendimento, de qualquer segmento industrial, comercial ou de serviços, prosperar se não observar a sua principal premissa que é preparação do capital necessário para a sua implementação. Vamos exemplificar com um caso hipotético: qual a probabilidade da abertura de um negócio empresarial quando a disponibilidade financeira do empreendedor se restringe apenas a indenização recebida pela sua demissão?

Em relação a maioria dos micros ou pequenos empreendimentos que deram certo em cidades com média de sessenta mil habitantes, comprovamos, por experiência própria, que seus proprietários estão mais próximos da classificação máxima da escala de Smith, mesmo que suas empresas tenham origem em “garagem” ou hobby, sendo que alguns já estão na segunda década de sucesso empresarial.

Isto não desclassifica, de maneira alguma, os empreendedores que iniciam no nível 0 da escala, desde que eles se conscientizem por si próprios ou por outrem, que navegar é preciso para alcançar o máximo necessário na escala para sair comemorando o sucesso futuro.
 

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  • Eduardo Regueira A matéria espelha uma realidade muito presente em nossa cidade. Imperioso a capacitação de quem quer empreender. Parabéns pela matéria.
  • Claudio Estamos muito distante do que se pode chamar de empreendedorismo, a maioria tem ideias e sonhos e entram com a cara e a coragem, aprendendo fazendo o que pode custar a falência do tão sonhado negócio.